Por Ticiana Paiva
Doutora em psicologia. Trabalha com intervenção à crise e ao suicídio
O suicídio é um tema tabu, sobre o qual as pessoas se sentem desconfortáveis e evitam falar.
Contudo, termos um mês dedicado para falar do suicídio é ter a oportunidade de levar informação correta e desconstruir algumas ideias que as pessoas possam ter em relação a essa temática.
O suicídio é um fenômeno complexo, onde as causas são multifatoriais e multi-determinadas. A pessoa que está pensando em tirar a própria vida é envolvida por diversos fatores que indicam os motivos para ela estar pensando em fazer isso.
Há fatores genéticos, sociais, emocionais, fatores relacionados à própria história de vida da pessoa, às formas de enfrentamento dela em outras ocasiões, ou seja, os processos de resiliência, etc.
É importante entendermos que falar de causas para o suicídio é entrar, de fato, nessa área da complexidade onde não há respostas fáceis. Não é um fato singular, não é uma desilusão amorosa, não é a perda de um emprego ou de um ente querido. Nunca é uma única causa que nos aponta o por quê dessa pessoa estar atravessando essa situação de considerar tirar a própria vida.
O que as pesquisas já concluíram é que pessoas que estão atravessando esse desejo de tirar a própria vida estão vivenciando uma dor psíquica insuportável. Elas estão atravessando uma turbulência emocional que as leva a esse estado de intolerância existencial. É importante ter isso claro, já que o pensamento de tirar a própria vida não é frescura ou vontade de chamar atenção.
É preciso ter cuidado ao saber sobre alguém que está vivenciando uma situação de suicídio. Essa pessoa está enfrentando um momento de desespero, um momento em que as saídas que ela buscou para amenizar essa dor psíquica não têm obtido resultado. Ela entra em um estado de desesperança em relação a sua própria situação.
Com isso, muitas vezes, ela se sente desamparada diante de sua dor, mesmo que ela tenha pessoas próximas que oferecem ajuda. Nada daquilo ela sente que repercute de forma positiva, na situação que ela está vivendo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 90% das mortes por suicídio poderiam ter sido evitadas. Esse é um dado muito importante porque indica que, para a grande maioria das mortes por suicídio, haveria ações que poderiam ter sido tomadas para termos um desfecho diferente e não trágico para aquela pessoa.
É preciso saber que as pessoas que atravessam esse momento existencial difícil são pessoas que precisam de acolhimento. São pessoas que precisam ser escutadas sem julgamento, de forma profunda, a respeito daquilo que elas estão vivenciando.
Se você suspeita que alguém próximo a você está pensando em se matar, como um amigo, um parente ou até mesmo um paciente, o primeiro ponto é perguntar a respeito disso. É preciso ser claro e direto e perguntar se essa pessoa está pensando em tirar a própria vida.
A partir disso, nós podemos abrir um espaço de diálogo. Possivelmente, dessa forma, a pessoa não se sentirá tão isolada e desamparada em seu sofrimento.
É preciso se oferecer para conversar com a pessoa em relação ao que ela está vivenciando. Essa conversa precisa ter uma escuta muito acolhedora e empática para a situação que ela está vivendo.
Por meio desse diálogo, é possível mostrar o apoio e a disponibilidade, bem como o intuito em ajudá-la. Assim, ela pode aceitar ser ajudada.
O passo seguinte é indicar ajuda especializada, demonstrar que a pessoa pode receber um tratamento e ser encaminhada para profissionais que possam auxiliá-la nesse momento difícil.
Esta pode ser a etapa mais difícil da vida dessa pessoa, mas ela pode se apoiar nos outros e obter ajuda.
Essa é a missão de todos, quando estamos diante de alguém com tendências suicidas: promover conexão, promover apoio e auxílio a essa pessoa e dizer que ela pode ser ajudada.